A pedagoga, pesquisadora e empresária mineira Ana Paula Ribeiro Arbache, 51 anos, é a entrevistada desta semana.
Arbache destacou que " a educação transforma a vida".
Saiba um pouco mais sobre a opinião e a carreira da voluntária da RGB que atua no Brasil. Confira!
RGB - Como foi o convite para participar da equipe de voluntários da Rede Governança Brasil e de que forma vai contribuir na RGB?
Ana Paula - O convite foi feito pelo coordenador do Comitê de Infraestrutura senhor José Luis Vidal. Eu espero contribuir, em um primeiro momento, fazendo a revisão da missão e dos objetivos do comitê conforme o direcionamento estratégico da RGB, bem como proceder a organização interna do comitê a partir do engajamento dos membros ativos e possíveis voluntários convidados. Esse processo de criação da identidade do grupo e do ritmo de trabalho é um passo fundamental para estabelecermos os projetos e suas entregas, tendo uma a gestão ágil, assertiva e engajamento.
Em seguida, realizar um debate fértil a respeito da governança da educação no Brasil, tendo como recorte a educação para o mundo do trabalho pós período pandêmico. Esse foco incidirá nos níveis do ensino médio, profissionalizante e graduação. A intenção é colaborar com a discussão trazendo à tona diretrizes de governanças globais (Reset Work – Reskilling Revolution) e às demandas para adequar a força de trabalho por meio da educação e do desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais aptas para se inserirem no mercado de trabalho brasileiro. Ver aqui.
RGB – Alguma vez foi voluntária em outra situação?
Ana Paula - Sim, desde a adolescência faço trabalho voluntário, quando fui dirigente de um grupo de adolescentes na escola fundamental. Esse olhar para o outro sempre esteve presente e foi aguçado e foi aprimorado quando assumir a liderança em projetos de extensão quando fui docente da Universidade Federal de São João Del-Rei. Recentemente, fui voluntária da Escola da AACD, Membro voluntária do PMI Capítulo São Paulo, Mentoria voluntária do Instituto Ser+, sou fundadora e presidente do Coletivo HubMulher criado em 2018 que reúne cerca de 200 voluntárias para realização de projetos voltados para o ODS 5 – equidade de gênero.
RGB – Trabalha no setor privado ou público?
Ana Paula - Setor privado: sou CEO de uma HR Tech Arbache Innovations e sou docente convidada da FGV/IDE e da Global Alumni para os Programas de Liderança para Inovação do MIT Professional Educacion.
RGB – Humanizar e respeitar pessoas em qualquer ambiente são pontos forte para viver e trabalhar?
Ana Paula - Sim, esses são valores essenciais para que possamos estabelecer relações éticas e virtuosas em qualquer ambiente. Quanto temos ambientes que fomentam esses valores, temos segurança psicológica e confiança para estabelecer elos firmes e contributivos entre as pessoas. Eu sou professora de ética nas organizações há cerca de 15 anos e em meu doutorado realizei tese com foco em ética, a vida do ser humano é o princípio fundamental da ética e o respeito a ela é essencial.
RGB - Sobre o cargo que exerce, o que mais gosta de fazer em relação as atividades de trabalho?
Ana Paula - Como CEO consigo estabelecer relação efetiva entre os meus estudos e as inovações demandadas pelo mercado. Nossa empresa é voltada para inovações tecnológicas na área de recrutamento e seleção e desenvolvimento da força de trabalho. Nosso propósito é oferecer ferramentas capazes de favorecer a inserção dos profissionais ao mercado de trabalho e, por sua vez, oferecer às empresas profissionais adequados para que possam contribuir com suas estratégias e resultados. Veja que, temos o ser humano como foco central em nosso propósito.
Também tenho a oportunidade de levar todas as inovações tecnológicas que desenvolvemos para nossa área de responsabilidade social e sustentabilidade, onde criamos uma gameoteca gratuita focada nos ODS 4, 5, 8 e 10, e juntos com a Onu Mulheres, Pacto Global, Instituto Maria da Penha, Associação dos Magistrados do Brasil, Instituto Avon, Sodexo, ABRH entre outras parcerias, contribuímos para levar educação ubíqua em torno dos seguintes temas:
1. Mobi Carreira da Mulher
2. Mobi WEPS: Principios do empoderamento feminino nas organizações (Lingua portuguesa e inglesa)
3. Mobi Game de Enfrentamento à Violência Doméstica (Lingua espanhola e portuguêsa)
4. Aya Game: conhecimento para comportamento anti-racista (será lançado em agosto de 2021)
Todos os games são gratuitos e já contribuíram para a educação de 2 mil pessoas. https://arbache.com/mundomelhor/empoderamento.
Também publicamos nossos relatórios de impacto social e ambiental no Pacto Global onde somos signatários.
Como docente consigo atuar na formação de lideranças nacionais e internacionais preparando-os para atuarem em ambientes inovadores.
O que me move nessas ações é poder ser uma mulher que atua em prol da carreira da mulher, sendo uma agente de transformação ativa e tendo a educação como força motriz para essas ações. Como CEO tenho a oportunidade de influenciar meninas, jovens e mulheres a assumirem papeis significativos na sociedade e contribuírem para um mundo melhor e mais justo.
RGB - Teve incentivos para atuar na área de sua formação?
Ana Paula - Sim minha família, particularmente meus pais e meu marido. No entanto, sempre quis ser professora, comecei como alfabetizadora em uma escola rural, alfabetizando trabalhadores rurais no período da noite. Essa experiência marcou a minha vida e a minha jornada como pessoa. É incrível o poder que a educação pode ter na vida das pessoas, ver como isso acontece, como uma pessoa adulta resgata sua dignidade por meio da leitura é algo maravilhoso. Também tive essa experiência alfabetizando crianças, por isso toda a minha jornada como docente tem como pilar estabelecer esse elo forte entre educação e dignidade da vida humana!
RGB - A maioria dos profissionais nunca esquece a primeira oportunidade de emprego. Alguma recordação que poderia nos contar?
Ana Paula - Como comentei acima, comecei muito cedo, com 18 anos já alfabetizava adultos da zona rural de Juiz de Fora. Eu estudava pela manhã e algumas tardes na Federal de Juiz de Fora e à no final da tarde, pegava a Kombi da Prefeitura e seguia para uma jornada de cerca de uma hora até a comunidade rural onde ministrava aula para os jovens adultos. Uma situação que sempre me recordo é que tive a oportunidade de alfabetizar na mesma sala de aula a avó e o neto, quando ela conseguiu ler foi um momento extremamente gratificante. Eu vi que, mesmo muito nova, poderia ter uma ferramenta potente em minhas mãos: a capacidade de promover uma vida melhor para meus alunos por meio da educação.
RGB - Fale sobre sua profissão, formação e experiências e família.
Ana Paula - Como disse acima comecei muito cedo. Eu fiz o então “segundo grau profissionalizante” – o curso normal. Assim que me formei já comecei ministrar aulas em uma escola rural da prefeitura e assim fui durante toda a minha graduação em Pedagogia, estudava pela manhã, a partir do segundo ano de faculdade também trabalhava a tarde e a noite (o que não é novidade no magistério).
Assim que terminei a faculdade segui para a pós-graduação Latu-senso em psicopedagogia para poder me especializar e, na sequência fiz o concurso para docente na Universidade Federal de São João Del Rei, aos 25 anos já estava em sala de aula ministrando aula para a graduação na pedagogia e licenciaturas. Na Universidade, tive a oportunidade de conviver com professoras que foram verdadeiros faróis, o que hoje falamos de times multigeracionais, eu vivenciei aprendendo na prática com outras docentes do departamento das ciências da educação. Eu tive a oportunidade de vivenciar experiências significativas na colaboração da gestão do departamento e da coordenação de pedagogia. Também coordenando um projeto de extensão da Universidade com apoio de uma instituição alemã voltado para a alfabetização de adultos no entorno da universidade.
O mestrado realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro consolidou meus estudos em relação a educação para jovens e educação em uma perspectiva multicultural, também tive a oportunidade de realizar estudos em torno do currículo e da educação multicultural, com trabalhos apresentados fora do Brasil.
O doutorado focou no trajeto ético das cotas raciais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, sendo uma das primeiras teses de doutorado a aprofundar essa ação inovadora de inclusão no ensino superior. O doutorado foi um marco importante, foi realizado na Pontíficia Universidade Católica de São Paulo, onde pude mergulhar por três anos em um estudo que teve a ética como alicerce e um olhar cuidadoso para a educação e seus diferentes stakeholders, os estudantes, a instituição, o governo, as associações civis, a população, os professores, todos em uma experiência importante de políticas afirmativas na educação.
O pós- doutorado já estabelece uma relação mais próxima entre a minha ação docente em uma grande escola de negócios no Brasil, com as premissas do desenvolvimento sustentável, o que busquei foi estabelecer um estudo profundo a respeito da educação para a sustentabilidade, tendo como foco a formação de lideranças. A pesquisa buscou as falas de líderes para entender se, naquele momento, estavam preparados ou não, para atuarem como líderes voltados para o binômio desenvolvimento sustentável e crescimento econômico, de acordo com as diretrizes da governança global.
Na sequencia e já atuando como empreendedora, firmamos uma parceria com o MIT Professional Education e a Arbache Innovations empresa a qual sou sócia e hoje estou como CEO, procurei formações internacionais na área de inovação e liderança para times inovadores. A parceria com o MIT PE e as formações internacionais se tornaram importantes para que pudesse atuar em ambientes inovadores e de empreendedorismo, bem como oferecer educação para inovação nas escolas de negócios onde atuava.
Essa parceria possibilitou acolher tecnologias inovadoras em nossa empresa e nossos produtos, e em 2018 recebemos investimentos e prêmio em programa de aceleração, ganhando com isso, um período de aceleração na Plug and Play no Vale do Silício. Todo o aprendizado trazido pelos sócios, aceleram os ciclos de transformações da empresa e, hoje, a mesma está estabelecida oferecendo ferramentas ramificadas para empresas nacionais, bem como oferecendo programas inovadores em parceria com o MIT PE.
Em relação a família, sou mãe de 3 filhos, Fernando 21, Isabela 19 (ambos trabalham comigo na empresa) e Anna Maria 14. Eu sou casada há 27 anos com Fernando Arbache e trabalhamos juntos desde então, sendo ele meu grande apoiador.
RGB - O que mais gosta de fazer quando não está trabalhando? Pode exemplificar?
Ana Paula - Gosto de estar com minha família, gosto de uma boa leitura, filmes e uma caminhada no campo ou no parque se possível.
RGB - Se não fosse formada para a profissão que exerce hoje, o que seria?
Ana Paula- Juiza. Eu tive padrinho que foi um grande exemplo em minha vida. Ele foi um dos pioneiros em Brasília e deixou um grande legado para a área de advocacia, meu querido tio Maurício de Campos Bastos foi um anjo bom em minha vida.
RGB – Como avalia o tempo de trabalho?
Ana Paula- Quando se faz o que ama, o tempo de trabalho é um tempo gratificante, realizador!
RGB - Conciliar trabalho, estudos, família, e outras atividades, é possível? Como?
Ana Paula - Sempre fiz isso, com muita organização, disciplina e foco é possível. Outro ponto importante é uma rede de apoio, (meu marido foi um grande apoiador e, meus filhos são grandes parceiros) para que se possa “sair de casa” com a confiança de que tudo ficará bem.
RGB - Tem ou teve alguma personalidade no setor público ou privado como referência, que contribuiu para sua formação? Pode citar? Comente?
Ana Paula - Tenho muita admiração por Viviane Senna, ela é uma mulher forte, que fez da adversidade uma oportunidade para impactar positivamente a vida de muitas crianças por meio da educação.
RGB - Gosta de opinar nos assuntos de política, economia, esporte, educação e outros? De que forma?
Ana Paula- Não digo opinar, eu gosto de contribuir com uma visão técnica, baseada em estudos consistentes para que realmente possamos ter alguma contribuição, ou perspectiva critica com potencial de crescimento. Em relação a educação, inovação e ao mercado de trabalho com foco em recursos humanos.
RGB - Teve algum projeto ou já realizou alguma ação para melhorar o serviço público ou privado? O quê?
Ana Paula - Sim, além do projeto chamado “Lava pés” na Universidade Federal de São João Dei Rei onde fui docente e pude contribuir para a alfabetização de jovens e adultos, recentemente, fui membro da coordenação do projeto “Desenvolvimento de talentos na formação profissional: escritório de carreiras FATEC Jessen Vidal São José dos Campos”, reduzindo a evasão de alunos do curso de logística do primeiro ano em até 70%, o projeto utilizou gamificação e mentoria de carreira e foi uma jornada inovadora na área.
O projeto também foi levado para a FATEC em São Paulo para o curso de empreendedorismo. Hoje, por meio da Arbache Innovations doamos ferramentas gamificadas para dois projetos:
Instituto Ser + - para recrutamento e seleção de jovens carentes da periferia.
RGB - De que forma contribuiu?
Ana Paula - Na Fatec Jessen Vidal: atuando como uma das coordenadoras do projeto. No Insitutto Ser + - como doadora pela empresa.
RGB – Costuma comemorar o dia da sua profissão com outros colegas, familiares, amigos?
Ana Paula - Sim, com os colegas de profissão – dia dos professores.
RGB - Um livro de cabeceira ?
Ana Paula - Factfulnees: o ato libertador de só ter opiniões baseadas em fatos de Hans Hosling. Minha História de Michelle Obama
RGB - Um filme inesquecível ?
Ana Paula - “Como é que ela consegue” – é um filme que mostra muito bem como é a vida de uma mulher que tem que equilibrar a vida profissional e família e todos os dilemas e oportunidades inseridos nesse contexto.
RGB - Um prato?
Ana Paula - Mineiro: lombo de porco, arroz, feijão, couve e farofa.
RGB - Um presente que gostaria de receber?
Ana Paula - Ver professoras e professores serem valorizados, fui professora primária e trabalhava dois turnos para poder ter uma vida decente e poder investidir em minha carreira. Já vi olhares preconceituosos e de desprezo quando falava que era professora primária, por ser uma profissão desvalorizada – um presente muito bom seria ver que a profissão que escolhi e honro possa ser capaz de dar vida digna a todos aqueles que escolheram a mesma profissão que eu!
RGB – Um projeto que gostaria de realizar?
Ana Paula - O HubMulher coletivo, o qual sou fundadora é um sonho realizado, por meio dele, eu e as voluntárias podemos impactar positivamente na carreira das mulheres e, ao mesmo tempo, nos fortalecer por meio de uma rede forte de networking e muita sororidade. No HubMulher, temos hoje o HubAcademy que faz educação gratuita voltada para a mulher no mercado de trabalho, esse ano estamos focadas em um projeto inovador chamado Jornada Tech, onde trazemos especialistas para falar de carreira STEM.
RGB - Uma dia inesquecível e uma imagem que não consegue esquecer?
Ana Paula - O dia do meu casamento e do nascimento dos meus filhos. Em minha carreira foi o dia que minha aluna que era avó de outro aluno percebeu que estava lendo... e, em uma passagem do tempo, em 2015 quando recebi minha primeira certificação internacional pelo MIT PE. – eu vi minha jornada toda na minha mão ao receber aquele certificado – vi uma jovem de 18 anos, professora de zona rural, concluir um curso na melhor universidade do mundo, quando recebi o certificado eu estava com os meus filhos e o meu marido... foi inesquecível!
RGB - Algo que te motiva ?
Ana Paula - Minha família e minha carreira.
RGB - Uma frase?
Ana Paula- A educação transforma a vida!
RGB - O que diz às pessoas que pretendem ser voluntárias na RGB?
Ana Paula - Venham prontas para realizar. Ao assumir o voluntariado é preciso estar ciente de que fará parte de grupo que precisam de você para realizar!
RGB - Qual a mensagem que queira deixar para a RGB?
Ana Paula - Eu gostaria de agradecer pela confiança em meu trabalho e pela acolhida, também gostaria de dizer que vim para realizar um bom trabalho, pois, como disse acima, o voluntariado remete à ação! Contem comigo.
Currículo
Ana Paula Ribeiro Arbache é pedagoga e empresária. Pós-doutora em Educação pela PUC/SP, com ênfase em formação de lideranças para o desenvolvimento sustentável. Doutora em Educação pela PUC-SP com ênfase em ética e educação. Mestre em Educação pela UFRJ com ênfase em educação multicultural. Certificada pelo Massachusetts Institute of Technology/MIT- Challenges of Leadership in Teams (2015) e Leading Innovative Teams (2018). Fundadora do Coletivo HubMulher Brasil. Docente dos cursos de MBA da Fundação Getúlio Vargas. Facilitadora Global Alumni. Orientadora e avaliadora de trabalhos de pós-graduação. Sócia Diretora startup - RHTec Arbache Innovations , responsável pelas ações de People Analytycs, Inovação, Gestão de Pessoas, Liderança,, Sustentabilidade Ética, Social e Ambiental e Elaboração e Aplicação Jogos de Negócios. Pesquisadora e autora das obras: A Educação de Jovens e Adultos Numa Perspectiva Multicultural Crítica (2001), Projetos Sustentáveis Estudos e Práticas Brasileiras (2010), Projetos Sustentáveis: Estudos e Práticas Brasileiras II (2011), Sustentabilidade Empresarial no Brasil: Cenários e Projetos (2012). Crise e o impacto na carreira (2015).Recursos Humanos: transformando pela gestão (2018). Desenvolvedora e Instrutora do Treinamento para certificação do Programa de Mapeamento de Competências GetSongs em parceira com a Pearson Brasil . Certificação em Coaching, Mentora de Carreira Estratégica para Executivos. Curadoria do blog arbache.com/blog e da Página Mundo Melhor Empoderamento Feminino da Arbache Innovations. Fundadora do Coletivo de Executivas HubMulher. Palestrante em encontros nacionais e internacionais.
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