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A administração pública precisa de gestores mais ousados, diz coordenadora da RGB



RGB Entrevista com Andreia Rego, assessora-chefe da Assessoria de Apoio Gerencial da Diretoria-Geral do Supremo Tribunal Federal. coordenadora da RGB, professora e mentora do Instituto de Comunicação Verbalize. Confira!


RGB - Na sua visão, o que é a Governança no setor público?


Andreia Rego - Atualmente, fala-se muito sobre a centralidade do cliente como fator determinante para a manutenção das organizações nesse mundo em constante transformação, que nada mais é que considerar o cliente no desenvolvimento da cadeia de valor de empresas e órgãos e tê-lo como referência para as tomadas de decisão. Dito isso, governança seriam os instrumentos que venham a garantir esse foco do cliente, o que ele espera dos nossos órgãos públicos e, dentro dessa perspectiva, existe uma premissa muito forte que é a relação de confiança. O que nossos cidadãos e clientes esperam de nós para que possamos prestar nossos serviços com agilidade, confiabilidade e credibilidade? Isso é governança.

Existe a definição clássica do TCU, que referencia aos mecanismos de liderança, estratégia e controle. O que precisamos sempre nos questionar é: Estamos mesmo considerando os três pilares dentro de uma atuação coordenada nas nossas tomadas de decisão e na estruturação da nossa arquitetura organizacional? Precisamos ser amantes da verdade e nos questionar sempre se estamos agregando valor e buscando o equilíbrio desse tripé.


RGB- Como surgiu o seu interesse por Governança e Gestão de Riscos?


Andreia Rego - Mais que um interesse, trata-se de uma necessidade básica do gestor compromissado com a coisa pública e com os objetivos da organização. Acredito muito na Governança e na Gestão de Riscos como instrumentos de apoio ao alcance dos resultados com eficiência, eficácia e garantias tanto para o órgão quanto para o gestor. A gestão de riscos, por exemplo, serve como meio de proteção aos gestores que buscam inovar. Muitas vezes, com receio e sem uma estruturação clara dos riscos que ele incorre, o gestor fica sem saber como atuar para minimizá-los ou até mesmo para refletir se os resultados compensam e os riscos podem ser assumidos. Com receio, muitos optam pelo caminho mais conhecido ou mesmo pela inércia. A administração pública precisa de gestores mais ousados, mais protagonistas e mais proativos, para tanto, precisamos resguardá-los.


RGB- Qual a relação entre a Boa Governança e a Gestão de Riscos? Você poderia comentar um caso concreto de implantação da Gestão de Riscos e os resultados alcançados?


Andreia Rego - Um trabalho muito interessante que fizemos, em 2020, foi o levantamento dos riscos dos projetos estratégicos da organização. Alguns trouxeram resultados práticos para tratamentos tempestivos de forma a aumentar o alcance dos objetivos do projeto, mas houve uma identificação de um projeto em específico que demonstrou que se o trabalho de mapeamento do processo tivesse ocorrido antes da efetiva contratação, alguns riscos teriam sido evitados, ou seja, foi uma comprovação quanto à importância da realização prévia da gestão de riscos e de outros mecanismos de gestão. Como resultado, foi possível realizar ajustes nos requisitos para que a contratação ficasse mais aderente à necessidade da unidade, mas serviu de grande aprendizado para reforçar a necessidade de reflexões e aprofundamento dos problemas antes da efetiva busca por soluções tecnológicas.


RGB - O que é e como surgiu o documento Riscos Gerais em Projeto?


Andreia Rego - Na verdade, foi um resultado natural do trabalho que realizamos de identificação dos riscos nos projetos estratégicos. Foi possível perceber que alguns riscos eram inerentes a qualquer iniciativa de projeto, independente da sua temática e área de atuação. Quando percebemos esse comportamento, logo lembramos do RCA (Riscos e Controles nas aquisições) do TCU que são riscos inerentes aos processos de contratações. Então veio a ideia de fazermos algo semelhante para projetos com o objetivo de ter uma cartilha lúdica com os principais riscos que permitisse ao gestor refletir quanto a possíveis controles e tratamentos antes mesmo do projeto iniciar, aumentando assim as chances de sucesso da iniciativa e minimizando as chances de materialização desses riscos, principalmente por desconhecimento ou pela realização da gestão de riscos tardiamente.


RGB - Quais são, na sua visão, os maiores desafios para a prática da liderança no setor público em teletrabalho? A gestão em home office deve ser diferente daquela praticada no presencial.


Andreia Rego - Assim como falamos sobre a relação de confiança do cidadão com as organizações públicas, esse também é um desafio encontrado, e uma relação a ser buscada pelos gestores públicos com suas equipes. Mesmo no presencial, não há mais espaço para a antiga forma de gestão de “comando e controle” e sim de relações de confiança, acompanhamento de entregas de valor e estabelecimento de fluxos de comunicação fluidos e constantes. Claro, esses fatores se tornam mais desafiantes para o líder que está distante, que não está ali vendo o esforço do seu servidor, que não está vendo de perto a condição de saúde e energia dele, mas acredito que estamos passando por um momento de adaptação. O desafio, claro, foi potencializado pela pandemia que colocou na responsabilidade dos líderes o seu próprio aprendizado e adaptação, da sua equipe e a gestão de todas essas emoções também, as dele e de todos. É um momento para muita humildade e empatia.

No livro gestão do amanhã, os autores falam sobre a transição das radionovelas para as telenovelas. No início, as telenovelas foram feitas exatamente no mesmo formato das radionovelas, ou seja, os atores sentavam em cadeiras e liam suas falas, pois as pessoas ainda não tinham se atentado para a quantidade de recursos que o novo formato poderia trazer. Trago essa analogia para que possamos entender que muito ainda deverá ser feito, que ainda estamos aprendendo e que erros irão acontecer. Faz parte do processo, não podemos jamais condenar os novos formatos porque ainda estamos em transição ou porque não alcançamos um ideal. Não dá para andar para trás, agora é aprender, testar e ajustar continuamente.


RGB - Na sua opinião, quais competências serão mais valorizadas nos servidores públicos nos próximos cinco anos?


Andreia Rego - A velocidade das transformações ocorridas no mundo tem aproximado cada vez mais serviços públicos e iniciativa privada. A estabilidade não existe mais e o cidadão que é o endereçado dos nossos serviços está acostumado com atendimentos cada vez mais ágeis, acessíveis e intuitivos. Precisamos atender a esse cidadão, que cobrará de nós, cada vez mais, por nossa capacidade de resposta nesses moldes. Assim como precisamos buscar essa adaptação, também precisamos construir um ambiente mais humanizado, conhecer mais nossa organização e nossos indivíduos, além de buscar aprendizado diretamente e constantemente, não dá mais para colocar a responsabilidade somente para a organização pelo nosso próprio desenvolvimento. Falando em competências eu te diria capacidade de aprender, estar aberto a mudanças, ser um conector de ideias e pessoas, ser um bom comunicador, ser ágil e adaptável, mas principalmente humilde e disposto a desenvolver, a qualquer tempo, novas competências requeridas, algumas que talvez nunca tenhamos ouvido falar. Bem vindo ao futuro.


RGB - Você é conhecida por ser uma leitora voraz. Qual livro sobre gestão mais te marcou? E por que?


Andreia Rego - Só um? Vou falar dois, não, três (risos). Um livro sobre liderança que indico muito é o Liderança e Propósito, do Fred Kofman, vice-presidente de desenvolvimento do Linkedin. Ele traz um conceito de liderança que ressoa muito pra mim, que é a liderança como instrumento de conexão entre as pessoas, ele a trata como um chamado e uma missão de servir a um propósito maior.

O segundo livro seria A Essência de Peter Drucker. Uma Visão Para o Futuro, de Elizabeth Haas Edersheim. Ela traz retrata a mentalidade desse grande guru da gestão. É impressionante como ele era um visionário e tinha uma sensibilidade diferenciada, ele já falava sobre a importância da gestão do conhecimento e do aprendizado desde a década de 60 e se angustiava com a desconsideração do fator humano nas teorias de administração.

Terceiro e último é o já comentado anteriormente Gestão do Amanhã, de Salibi Neto e Sandro Magaldi, uma dupla brasileira de grande referência e que tem publicado livros interessantíssimos e necessários para o nosso contexto atual.



Andreia Rego é assessora-chefe da Assessoria de Apoio Gerencial da Diretoria-Geral do STF. Formada em Comunicação com MBA em Estratégia Empresarial, ela foi gerente no STF-Med, assessora na Assessoria de Administração e coordenadora na Secretaria de Gestão Estratégica do STF. Possui experiência em outros órgãos como o Ibama e em empresas da iniciativa privada. É coordenadora da RGB e professora e mentora do Instituto de Comunicação Verbalize.


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